quinta-feira, 9 de abril de 2009

A “Maquininha Azurra”


A "Maquininha Azurra", a grande campeã catarinense de 2008
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Os gols foram a marca registrada do Avaí-LIC Sub-13. Foram 21 na primeira rodada do Campeonato Catarinense de Futsal e outros 18 na segunda. O time já disparava na ponta da artilharia com 39 gols em apenas seis jogos, uma média de 6,5 gols por partida. Se forem somados os 24 gols nas três partidas da II Copa Pieri Sport de Futsal e os 4 do amistoso disputado contra o Sest-Senat, a equipe havia marcado 67 gols em 10 jogos, uma média de 6,7 por partida.
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Eu estava em São João Batista, logo após o término do turno da segunda fase do Estadual quando ouvi alguém da arquibancada falar: “É um time para ser campeão, parece até uma máquina de fazer gols”. Claro, não demorou muito para que o nosso Sub-13 ficasse conhecido como a “Maquinha Azurra”. Mas surgiu um problema: a “Maquininha” emperrou logo na semana seguinte, sofrendo sua pior e mais humilhante derrota na temporada 2008: 9 a 1 diante do Colegial na partida de abertura da Liga Atlética de Futsal (LAF). Hoje penso que foi o nosso primeiro susto naquele ano, já que outros ainda estariam por vir, como a derrota por 6 a 2 para a Elase na segunda rodada da LAF.
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Com apenas três gols nos dois últimos jogos, não seria um exagero chamar aquele time de “Maquininha”? A resposta veio em seguida.
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No returno da segunda fase do Estadual, jogando em casa, marcamos mais 22 gols. A partir daí a equipe começou a crescer, embora sua média de gols despencasse até o final do ano de 6,7 para 5,75. É certo que isso ocorreu devido às dificuldades encontradas nas fases mais agudas das competições. Mas, ainda assim, a equipe soube como fazer gols e impor o seu domínio durante a maioria das partidas.
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Além de marcar, o Avaí-LIC se notabilizou por também sofrer poucos gols. E, o que é mais enfático: de todas as equipes que disputaram o campeonato Estadual, foi a que mais atuou em quadras pequenas. Foram 25 jogos em quadras de 30 metros; três jogos em quadras de 36 metros e; cinco jogos em quadras de 40 metros. Com tudo isso, sofreu somente 86 gols, uma média de 2,60 por partida. Marcou 178 gols, uma média de 5,39.
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Outro detalhe interessante sobre o sistema defensivo é que, ao invés de um fixo encorpado como na maioria das equipes e um sistema cerrado de marcação, seja ele um 2x2 ou um 4-0, a “Maquininha” jogava para frente, em um sistema concebido para ser 3-1 mas que, quase sempre, se tornava 1-3 (e às vezes 0-4) na prática, devido às características da equipe. Além disso, o fixo Pelezinho era franzino e cumpria muito mais a função de armar do que de defender. Normalmente quem defendia era o goleiro Victor, que muitas vezes serviu de líbero, impedindo as jogadas de transição adversárias.
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A equipe não treinava, mas seu sistema defensivo funcionava muito bem. Havia um comprometimento de compactar a defesa assim que a equipe perdesse a bola e, com o passar do tempo, esse sistema acabou dando certo. Não me lembro de treino algum em que todos os atletas tivessem comparecido. Sempre faltava alguém e foi assim durante todo o ano. Mas fazia parte do jogo, afinal, reunir meninos vindos de Bom Retiro - município a 180 quilômetros de Florianópolis -, Fazenda da Armação, Santo Amaro da Imperatriz e Biguaçu não era nada fácil. A logística foi o ponto chave desse esquema e tenho muito a agradecer a Jane Correa por trazer a garotada de Biguaçu para os treinos e jogos. Mesmo quem morava em Florianópolis tinha que percorrer uma boa distância para chegar ao LIC. Foi um grande esforço. Em relação aos pais e atletas de Bom Retiro, contarão com a minha admiração e gratidão para sempre.
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Tenho que confessar que não acreditei que essa equipe conseguisse passar da quarta etapa do Estadual. A terceira etapa já havia sido um grande sufoco. Fora isso, o time começou a perder jogadores importantes. Mas, surpreendentemente, soube superar essas circunstâncias e se uniu ainda mais. Nosso técnico, Alex Silva, me disse que a saída de alguns jogadores do grupo melhorou o ambiente. Foi uma espécie de limpeza, de descarrego. Se foi isso ou não eu não sei, mas a partir daquele momento as coisas melhoraram bastante.
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Para tentar algum entrosamento, já que era impossível treinar regularmente, decidimos que a participação na LAF seria nosso campo de treinamento. De fato, usamos aquela competição como laboratório, sabendo que seria difícil colher grandes resultados, já que a equipe quase sempre jogava incompleta e mesmo os atletas que vinham de locais mais distantes, viajavam, saíam do carro, vestiam o uniforme e jogavam. Era de se esperar que no segundo tempo o rendimento da equipe caísse.
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Apesar de tudo isso, o Avaí-LIC ainda conseguiu, brilhantemente, vencer o segundo turno da competição e disputar o título contra a Elase, que merecidamente foi a grande campeã. O vice, nessas circunstâncias, foi uma conquista mais do que satisfatória.
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Durante todo ano a “Maquininha Azurra” estava na boca e na mente das pessoas. Por onde passou deixou boa impressão - a impressão de que seria campeã estadual. Amada e odiada, a equipe tinha a grande virtude de jamais passar despercebida. Aproveitei o fato para divulgar na mídia seus resultados, que vinham se tornando cada vez mais expressivos.
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No fim, após todas as conquistas da equipe, e diante do desmanche que se tornara evidente antes mesmo do término das competições, ficou na boca um gosto esquisito. Um pouco doce pelos títulos, um pouco amargo pelo fim da equipe, que cumpriu com muita dignidade a sua missão.
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Fizeram parte da “Maquininha” os seguintes atletas: Victor, Lucas Cassol e Duda (goleiros); Pelezinho (armador); Diogo, Serginho, Yan, Jhonathan,Vinícios, Bruninho, Pedrinho, João Pedro, e Jefferson (alas); Cleyton, Gustavo e Maisto (fixos); Marcão, Pellegrini, Leonardo e Gabriel (pivôs). Técnico – Alex Silva; Preparador de goleiros – Alexander Fernandes; Coordenador da equipe – Valmício Nunes; Gestor da equipe – Alexander Fernandes; Diretor de futsal – Iuri Schlüter.
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LIDERANÇAS
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Toda equipe que tem como objetivo conquistar títulos necessita de lideranças firmes. Mas o que é um líder? Em minha opinião são pessoas que têm algum tipo de ascendência sobre as demais, que gozam da maior confiança de um determinado grupo e que servem como modelo para todos.
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O Sub-13 do Avaí-LIC possuía dois líderes, um dentro e outro fora de quadra. Do lado de fora, o pivô Marcão era o jogador que motivava o grupo com seu carisma e simpatia. Motivava mesmo. Era ele quem “colocava lenha na fogueira” antes dos jogos, levantando a moral da equipe. Se fôssemos avaliar pelo seu comportamento extra quadra, certamente ele seria o capitão da “Maquininha Azurra”. Apesar disso, não foi. Seu temperamento explosivo durante os jogos não o credenciava à função.
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Em 2007, tanto no Circuito Metropolitano de Futsal quanto na Copa Unimed de Futsal, o capitão da equipe foi o ala Diogo. A escolha foi do técnico Alex Silva. Eu não interferi, já que ele deveria ter os seus motivos. A meu ver não foi uma escolha equivocada por dois aspectos. Primeiro, porque o Diogo, embora gozasse da confiança do grupo, tem um temperamento um tanto introvertido. Segundo porque, desde a minha ida para o clube, passamos a formar as lideranças que vinha a ser os capitães das nossas equipes.
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E nesse caso, quem reunia todas as qualidades para a função era o goleiro Victor. A escolha foi simples. Ele vinha sendo capitão da geração 1995 nos anos anteriores. Estava apto a desempenhar a função e, mais do que isso, recebeu todas as minhas instruções para cumprir adequadamente o seu papel. Era a voz da comissão técnica dentro da quadra. Além disso, é extrovertido e empurrava a equipe para cima dos adversários. Normalmente passa despercebido para os leigos o trabalho de distribuição dos goleiros. Mais do que simplesmente distribuir as bolas na quadra, era ele quem determinava a cadência da equipe em cada partida, dependendo para qual atleta lançava a bola. Ou seja, era quem temperava o time, mudando suas características de acordo com a sua sensibilidade em relação ao adversário. Fazia parte da sua função de comando.
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Penso que para ser líder o sujeito tem que ser um pouco auto-suficiente, um pouco estrela. Tem que estar consciente de suas qualidades e passar firmeza aos demais companheiros. Obviamente, com um elenco repleto de craques como o Avaí-LIC Sub-13, as coisas ficavam mais fáceis.

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