quinta-feira, 9 de abril de 2009

As raízes da mudança

"Fazer algo bem feito vale tanto a pena que morrer,
tentando fazer ainda melhor, não pode ser loucura.
A vida é medida por realizações e não por anos.”
Bruce McLaren
1937-1970


Culica, precursor dessa história repleta de vitórias

A poucos dias do Natal de 2004, um encontro marcaria o início de uma mudança radical nas divisões de base de futsal do Lagoa Iate Clube (LIC). Na Praça de Alimentação dos Supermercados Angeloni, o então vice-presidente de Futebol do LIC, Luiz Alves da Silva, carinhosamente conhecido pela alcunha de Culica, e eu nos encontramos e trocamos algumas idéias sobre o futsal de base de Santa Catarina. Em meio às compras no carrinho, sentamos e fizemos um breve lanche. Culica, que meses antes havia me conhecido em um jogo em que discutimos bastante – ele como sempre muito aguerrido -, havia sutilmente me formulado uma proposta para deixar a Elase e partir para um projeto totalmente aberto no LIC.

Naquele momento eu ainda comemorava o tricampeonato estadual da Elase e, naturalmente, estava cheio de planos. No entanto, após 18 títulos ininterruptos, uma centelha foi acessa, quando pela primeira vez o “imbatível” time elaseano foi derrotado dentro de casa pelo Colegial, em uma prorrogação polêmica que culminou com a perda do título da Liga de Florianópolis.

De imediato, recusei a proposta, mas agradeci a lembrança. A Elase estava no meu coração. Vi todos aqueles meninos vibrarem de emoção nos dois anos anteriores em que fui auxiliar técnico e preparador de goleiros, ensinando, além do meu filho, todos os demais arqueiros do clube. Sair da Elase e seguir meu destino no LIC, uma equipe que vinha crescendo, mas que ainda era considerada pequena, era coisa que nunca havia me passado pela cabeça. Na verdade, sequer havia me passado pela cabeça ser preparador de goleiros ou auxiliar técnico. Minha área de trabalho – comunicação e marketing – não tem nada a ver com o esporte. Só que, revivendo antigos ensinamentos dos meus preparadores da minha época de goleiro - posição em que atuei por mais de duas décadas -, pude desenvolver a base técnica de diversos garotos. Como pai, investi no aprimoramento do meu filho.

Essa história começou quando eu apenas assistia aos treinamentos que eram feitos pelo preparador de goleiros da Elase, o Tiago. Ainda jovem, tinha que conviver com meus “palpites” de fora da quadra. Sei que isso o incomodava. Algum tempo depois, ele teve que terminar seu curso de Educação Física em Porto Alegre-RS e eu fui convidado pelo treinador Miguel Rabeba para assumir o seu lugar.

Confesso que sentir novamente toda a adrenalina das competições me despertou grande interesse e não demorou muito para me apaixonar pelo esporte. No passado, eu havia atuado nos campos de grama e de areia. Futsal (futebol de salão, na época) era apenas coisa de escola. Mas, a partir daquele momento, eu estava mais uma vez envolvido com o esporte. Agora, sentado no banco, passando instruções aos goleiros e gritando para auxiliar o sistema defensivo. E vieram os títulos, um atrás do outro. De fato, uma experiência inesquecível.

Minha discussão com o Culica foi durante um jogo que ganhamos por 3 a 0 no primeiro turno da Liga. No início do ano já havíamos derrotado o LIC por 13 a 0 e 8 a 0. Ou seja, o trabalho do técnico Alex Silva, filho do Culica, já demonstrava resultados efetivos. No segundo turno a coisa foi ainda pior: 5 a 4 em um jogo duríssimo. Era o LIC crescendo, deixando de ser um time pequeno para tomar assento nos lugares intermediários da Liga. Era uma espécie de quarta ou quinta força de Florianópolis. No entanto, esse lugar ainda não estava garantido, em função da fragilidade de sua estrutura. E o Culica sabia disso. Quis proporcionar ao filho uma situação mais estável para desenvolver seu trabalho, um suporte com base em uma experiência anterior vencedora e que, por outro lado, o desafogasse dessa árdua incumbência.

O ano de 2005 começou a tentei colocar em andamento um projeto de marketing na Elase que explorasse o fato da equipe ser tricampeã estadual. A aceitação foi apenas razoável, já que o clube estava dividido em diversas células de poder. Não em sua diretoria, mas através dos pais, que formavam grupos de pressão. E não houve como sustentar por muito tempo minhas idéias, que se conflitavam com os anseios desses grupos. Senti-me desrespeitado e sem poder de decisão. Chegara, enfim, a hora de partir.

De pronto o LIC me acolheu.

Não foi uma acolhida fácil, afinal de contas, eu representava já naquela época a mudança, a novidade que muitos pais do clube receavam, por estarem mal acostumados e satisfeitos em ver seus filhos sem talento atuando - mesmo que humilhados pelos adversários. Naquele momento eu fui o pesadelo vivo dos genitores da garotada perna-de-pau, que não admitiam de forma alguma transformações radicais no status quo do clube. Cheguei a ouvir de um pai a seguinte frase: “Não venha com idéias competitivas que isso aqui não é a Elase.

Com o respaldo da diretoria, mas ainda sem um cargo, fui adentrando devagar, observando e analisando a situação. Conversando com o técnico e com a diretoria. A situação que encontrei me remetia ao filósofo italiano, Antonio Gramsci: pessimismo no intelecto e otimismo na vontade. Pessimismo por constatar a ausência de talentos, desestruturação material e falta de objetivos claros. Otimismo por acreditar que todos os vazios poderiam ser preenchidos com criatividade e trabalho, muito trabalho. Tracei meus planos e materializei a política de crescimento do futsal dentro do clube em um documento de 50 páginas chamado “Projeto de Marketing – Categorias de Base de Futsal – LIC 2005”. A base do projeto era a mesma do plano feito anteriormente para a Elase, mas tanto suas características quanto seus objetivos eram completamente diferenciados.

O projeto visava, antes de tudo, nortear todas as ações a se desenvolver dentro da modalidade no clube, determinando objetivos, metas, estratégias, logística e ferramentas de análise e execução. Fora isso, definia uma clara política de aproximação junto aos patrocinadores. Apesar das idéias estarem prontas e assentadas no papel, faltava o mais importante, o poder político para executá-las. Do outro lado, a oposição logo se apressou em contestar as intenções do projeto. O campo de batalha estava armado. Os participantes da contenda claramente definidos. Faltava somente começar a luta.

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