quinta-feira, 9 de abril de 2009

3ª fase – Muito equilíbrio


O goleiro Victor foi destaque da equipe no turno e returno da 3ª fase

A 3ª fase do Campeonato Catarinense de Futsal prometia muito equilíbrio. Na nossa chave estavam as fortes equipes do Colégio São Bento, de Criciúma e a Hering, de Blumenau. Completava o grupo o Energia, de Tubarão, considerado o azarão entre as quatro equipes. Ficamos alojados próximo ao ginásio de esportes da Hering e chegamos a conversar com os nossos primeiros adversários daquela noite de 1º de agosto, o Energia, que dormiu na sala ao lado da nossa – estávamos, mais uma vez, hospedados em uma escola.
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Entramos na bela quadra da Hering, cujas dimensões 36 x 18 m teoricamente deveriam favorecer a qualidade técnica da nossa equipe. Só que o time não jogou bem. Os garotos, que treinaram uma semana antes da rodada, após um breve período de férias, pareciam meio lentos e desentrosados. Mas deu para o gasto, o suficiente para vencer o primeiro tempo por 3 a 1 e fechar a partida em 7 a 2. No banco, estreávamos o goleiro reserva Lucas Cassol, carinhosamente apelidado de Zubu.
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A noite foi longa para a nossa equipe. A fim de evitar respirar pó de giz na sala de aula onde estávamos alojados, fui dormir no ônibus. No dia seguinte, às 6 horas, fui acordado pelos garotos do Colégio São Bento, que estavam começando um breve treinamento antes de nos enfrentar, às 9h30min. Eles foram dormir cedo, enquanto nossa equipe dormiu às 3h30min. Alguns garotos ficaram bagunçando e perturbando o ambiente. Todos foram prejudicados. Sem saber o que acontecia no alojamento, nada pude fazer.
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Logicamente na quadra os reflexos da noitada iriam se manifestar. Começamos dominando a partida, já que a equipe de Criciúma costuma esperar o adversário em sua meia quadra. Em um contra-ataque, um chute cruzado abre o marcador para eles. Momentos mais tarde, em um chute quase da linha de 10 metros, nosso ala Diogo desvia de cabeça para o fundo das nossas redes, enganando o goleiro Victor. Diminuímos ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa continuamos jogando mal. Placar final: 4 a 2 para o Colégio São Bento e, de quebra, o fim da nossa invencibilidade na competição.
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À tarde, preocupados com a forma como a equipe jogou nas duas partidas anteriores, procuramos nos concentrar. O adversário liderava a chave naquele momento. A Hering tinha uma equipe experiente e unida, além de muito entrosada, por vir jogando junta há anos. Da nossa parte, contávamos com a maior força física dos nossos jogadores e com o talento de alguns deles. Decidimos optar pela marcação individual ao ala Matheus Batista, principal jogador adversário. Para a função escolhemos o Serginho. Nosso esquema de ataque e defesa, dessa forma, contava apenas com três jogadores. Serginho, a exemplo do que se faz em futebol de campo, cumpria o papel de colar no articulador das jogadas adversárias, sem estar preso a qualquer esquema tático.
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Durante o jogo essa estratégia deu certo. Independente de onde a bola se encontrava, Serginho estava ao lado do Batista, que se irritou bastante durante o jogo, chegando a receber um cartão amarelo. O Serginho também, obviamente. O primeiro tempo terminou com nosso time dominando as ações em quadra e levando muito perigo à meta adversária através dos precisos lançamentos do goleiro Victor para o ala-pivô Jhonathan, na função de pêndulo por trás da linha de defesa adversária. Abrimos 2 a 0 na primeira etapa.
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A Hering voltou diferente para a segunda etapa. Muito mais agressiva e sem depender tanto das jogadas do seu principal atleta. A pressão era intensa, fazendo com que o goleiro Victor trabalhasse bastante. Com menos de 3 minutos de jogo, a Hering diminuiria o marcador, numa falha de todo o nosso sistema defensivo. O gol motivou os adversários de Blumenau a pressionar ainda mais. Mas era o dia do nosso goleiro, uma verdadeira muralha diante dos vários chutes que saíam de todas as partes da quadra. O goleiro segurava o bombardeio e continuava lançando bolas perigosas em direção à meta adversária. A Hering chegou a trocar o goleiro, visando qualificar o passe e forçar algumas situações de 5 x 4. Nosso principal jogador, Diogo, não cumpria uma grande atuação, possivelmente cansado. Mesmo assim fez o primeiro gol da nossa equipe. O pivô Marcão, que não andava em boa fase, pouco entrou em quadra. Com o Serginho anulando o Batista, só restava ao armador Pelezinho e aos alas Jhonathan e Yan a esperança de ampliar o marcador. E era o dia do Yan. Com dois golaços no segundo tempo e um toque de bola diferenciado durante toda a partida, ele fechou o placar em 4 a 1. Mesmo com o marcador dilatado, a Hering jamais desistiu. Durante esse jogo, o técnico Alex Silva fez uma alteração criativa: colocou o Yan na armação das jogadas, para liberar as bolas com maior velocidade e o Pelezinho no ataque, livre para criar. Em um lance de rara beleza, que resultou em uma bola chutada na trave, nosso armador com um só drible deixou dois adversários sentados em plena quadra. Mas foi infeliz na finalização. Por pouco deixou de fazer um gol antológico. No fim da partida, Victor e Serginho saíram muito cansados de quadra, mas foram elogiados durante toda a viagem de retorno e ao longo da semana seguinte, durante os treinamentos. A vitória deixou os três principais candidatos à classificação com seis pontos ganhos. Nos critérios técnicos, a Hering estava em primeiro e nós em terceiro. A decisão ficaria mesmo para o returno, em Florianópolis.
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Vínhamos treinando duro depois da primeira derrota no Estadual. Quer dizer, quem vinha aos treinos treinava duro, já que a maioria dos titulares continuava faltando. Essa era a regra do nosso jogo. Muita gente reclamava. Mas não adiantava. No Avaí-LIC os titulares tinham as suas regalias, mesmo porque, a maior parte deles vinha de muito longe. Quanto aos reservas que reclamavam, várias chances foram dadas a eles, mas nunca correspondiam dentro da quadra. E foram saindo. O elenco, que estava inchado no começo do ano, foi esvaziando. Ficaram apenas os melhores, com exceção do Pellegrini, que sequer havia jogado uma partida. Mas eu ainda não havia desistido dele. Nesse meio tempo, tivemos três baixas: o goleiro Duda, o pivô Leonardo e o ala Jefferson. Ingressou na equipe, em setembro, o pivô Gabriel. Não ficou por muito tempo. Era grandão e precisava desenvolver melhor suas qualidades técnicas. Mas, na reserva, acabou desistindo. Uma pena.
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Tivemos problemas com o nosso ginásio de esportes para a realização do returno. Sem poder junto à nova diretoria eleita em chapa única (nosso grupo decidiu não concorrer ao pleito de 2008), passamos por vários problemas durante a temporada. Um dos piores foi ter o ginásio alugado na mesma data da rodada. Poderíamos, no máximo, jogar no LIC na noite de sexta-feira, mas os jogos de sábado precisariam ser realizados em outro local. Escolhemos a quadra da Adiee, que estava disponível e o clube pagou. Trata-se de uma excelente quadra, com medidas de 42 x 20 m que permitiriam que pudéssemos expor toda a nossa qualidade técnica. Mas seria bom para a Hering também, que possuía qualificações tão boas quanto às nossas. Além disso, de certa forma, a questão física que nos era favorável, estaria anulada, pois as dimensões da quadra dificultavam o corpo-a-corpo. Já quanto ao Colégio São Bento, equipe que jogava fechadinha, teríamos a chance de abrir espaços em sua defesa e superá-los com nosso talento.
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Pensamos tanto na Hering e no São Bento que nos esquecemos que ainda tínhamos pela frente o Energia. Esse jogo foi na quadra do LIC, no dia 22 de agosto. Dominamos as duas etapas, mas a bola insistia em não entrar. Quando faltavam 6 segundos para terminar o primeiro tempo, sofremos um gol em uma jogada de contra-ataque. Isso correu muitas vezes com nossa equipe, que transformava seu sistema 3-1 em 1-3 a todo instante e, em algumas ocasiões, em um suicida 0-4 - o que obrigava nosso goleiro a trabalhar bastante na antecipação.
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Voltamos para a segunda etapa com a mesma garra da primeira, mas a bola continuava não entrando. Seria uma zebra daquelas. Mesmo um empate seria uma grande zebra. Finalmente, aos 9:59 de jogo, empatamos a partida com um gol do pivô Marcão. E eles perderam o foco defensivo. Exatamente um minuto e vinte segundos depois, o ala Diogo faz o gol salvador. Viramos o jogo: 2 a 1. E continuamos pressionando, mas a bola... Bem, a bola insistia em não entrar.
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Pela manhã, no belo ginásio de esportes Rozendo Lima, da Adiee, um jogo que decidiria o nosso destino na competição. Como o São Bento havia vencido seu jogo na noite anterior, tínhamos que superá-los para ocupar a liderança do grupo e administrar o resultado contra a Hering. Eles entraram com moral em quadra, já que haviam quebrado a nossa invencibilidade. E sabiam que a gente iria partir para cima, para tentar dar o troco. Por sorte, aos 56 segundos de jogo, o ala Diogo abre o marcador. Mas eles não mudaram sua proposta de jogo e continuaram a se defender, temendo serem goleados e procurando nos pegar em nosso ponto mais fraco, a reposição defensiva na marcação de retorno, especialmente nas jogadas de transição. Bem postados na defesa, como sempre, criaram grandes dificuldades para nossos atacantes. E também para nosso sistema defensivo. Logo no início do jogo, depois do gol que sofreram, tiveram duas oportunidades. Na primeira, nosso goleiro foi obrigado a fazer uma defesa em um chute à queima-roupa. Na segunda, realizou um milagre em uma falta cobrada quase em cima da linha da área. Mas não fizeram muito mais que isso. Pelo contrário, continuaram na defensiva, talvez apostando em algum erro da nossa equipe – erro que não veio, para azar deles.
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Na segunda etapa, aos 5:54, mais uma vez o ala Diogo anota um gol, dando números definitivos ao jogo. Todo o time realizou uma grande atuação, se impondo ao adversário, que viu sua liderança provisória desabar de uma hora para outra. Como a Hering havia vencido o jogo preliminar, estávamos na frente, com 12 pontos, contra 9 pontos do time de Blumenau e também 9 pontos do Colégio São Bento. O Energia não havia pontuado, e nem pontuou.
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À tarde, a magra vitória do Colégio São Bento sobre o Energia, por 1 a 0 deixou a Hering de sobreaviso. Eles acreditavam que somente uma vitória garantiria a classificação sem depender de outros resultados. Isso não era verdade, porque o empate os deixaria na competição, como um dos melhores terceiros colocados entre todas as chaves.
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Quando o jogo começou a Hering partiu para cima, sem considerar o mando que quadra. Era tudo ou nada. E mais uma vez a estrela do goleiro Victor brilhava na competição. A muralha já conhecida pelos blumenauenses evitava seguidamente o sucesso dos arremates adversários. Porém, em um erro de marcação do nosso ala Diogo - que deixou o pivô Batista penetrar pela direita, quase que por cima da linha lateral para fuzilar o goleiro Victor com um chute cruzado -ficamos atrás no marcador.
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A partir daí o panorama do jogo mudou. Fomos nós que passamos a buscar com entusiasmo um gol salvador. Já estávamos classificados, como um dos melhores terceiros, mas queríamos a liderança do grupo para trazer mais uma etapa para nossa quadra. Começamos a tentar o gol de todas as maneiras, até que o ala Diogo, em uma bela jogada individual, driblou três adversários e fuzilou na saída do goleiro. Um golaço, digno do seu grande talento. E ele estava redimido. Fez uma grande partida.
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Com o empate, o jogo ficou lá e cá. Ambos tentaram a vitória até o final, com os dois goleiros se destacando. À medida que o tempo ia passando, o desespero da Hering aumentava. E novamente eles partiram para o tudo ou nada. E, mais uma vez, a muralha do azurra impediu o sucesso dos arremates. E foram muitos, especialmente nos 5 minutos finais de jogo. O tempo não passava, já que estávamos acuados, aguentando uma grande pressão. Victor, Pelezinho, Diogo, Serginho, Marcão e Yan se revezavam ao impedir o gol da vitória dos blumenauenses, que por muito pouco não ocorreu. Acabou 1 a 1. Na saída de quadra tive que apoiar nos ombros o nosso goleiro, meu filho, que defendeu de todas as formas, dando uma verdadeira aula de como um goleiro deve usar os pés em defesas que exigem altíssimo tempo de reação no futsal. Era uma de suas especialidades. No outro lado da quadra, uma grande choradeira. Simplesmente os garotos da Hering acharam que já estavam desclassificados. Mas não estavam, e ainda viriam a brilhar bastante na competição.

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